sexta-feira, 17 de julho de 2009

As razões de uma candidatura

  1. Com alguns amigos reflecti, recentemente, na possibilidade de se encontrar uma via independente de concorrer às eleições autárquicas para a Câmara e Assembleia Municipal, em Seia. Perante as dificuldades burocráticas, colocámos a hipótese de usar uma estrutura partidária, para lançar a candidatura, mas a ideia foi abandonada.
  2. De um modo inesperado, surge o convite pessoal da CDU para encabeçar a lista para a Câmara Municipal. Uma primeira resposta negativa foi dada e comentada entre as pessoas com quem habitualmente converso sobre a vida política e profissional. Depois de uma segunda investida por parte da CDU e malgrado algum desconforto por razões de saúde quer pessoais quer de familiares muito próximos, decidi aceitar o desafio.
  3. Junto dos responsáveis da CDU, sempre vinquei a minha independência face a partidos políticos, embora sejam conhecidas as minhas posições, de décadas, em prol das ideias sociais, comummente consideradas de esquerda. Referi mesmo a minha maior proximidade a posições assumidas pelo BE, em particular, nas questões que atravessam a profissão e carreira docente ou mesmo do movimento de cidadãos em torno das posições de Manuel Alegre. Não escondi, todavia, alguma simpatia e reconhecimento pelo valor de alguns deputados da AR na área política da CDU.
  4. Considero respeitável representar uma força como a CDU, com a ambição de conseguir capitalizar a expressão eleitoral de outras forças de esquerda como o BE, cidadãos que se revêem nas posições ditas alegristas e de outras pessoas que, sendo eleitores de outras forças democráticas não se revêem no aparelho partidário e opções que lhes são apresentados, nas autárquicas 2009. Em suma, a minha candidatura é uma humilde resposta aos anseios daqueles que colocam as preocupações sociais e culturais das pessoas e da comunidade bem acima das guerrinhas de partidos e/ou de interesses instalados e que não se revêem nas posições do poder habituais.
  5. Com uma carreira profissional de 36 anos em que trabalhei na educação, percorrendo duas gerações de alunos e preparado mentalmente para a possibilidade de uma 3ª geração por motivos da alteração às normas de aposentação decididas por este governo PS ( o fim da carreira terminaria exactamente em 2009 e foi adiada para 2016, só mais 7 anos), julgo não incomodar muito os eleitores por eu vestir a camisola da CDU, ainda que na qualidade de independente. Dei exemplos mais que suficientes para mostrar que sou uma pessoa tão normal como qualquer outra seja do CDS-PP seja do PS. Sabemos que preconceito enraíza mesmo, mas acredito que esse pormenor, felizmente, já não é importante para as escolhas da grande maioria das pessoas.
  6. Por vezes, inflamei-me contra certas práticas políticas adoptadas pelos políticos locais, regionais, nacionais e mundiais. Fi-lo na posição cómoda de quem está fora dos mecanismos de poder. Insurgi-me contra certos políticos que usam ou usaram a política para proveito das suas próprias barrigas assim como apoiei alguns Políticos pela forma cheia de sabedoria e desinteressada com que usaram o exercício da política para bem da res publica, para o bem da coisa pública. Se este aplauso sempre foi fácil, o apontar o dedo ao parasita sempre foi feito com a timidez de sentir que estar por fora é demasiado fácil.
  7. Com a minha participação neste combate autárquico, pretendo dar o exemplo e o convite a muitas mulheres e homens, jovens e menos jovens que estão fora da política para se empenharem numa participação mais activa, para lá do voto ou para além da posição de nem sequer votar, por os políticos não merecerem esse incómodo. Esperar que a política actual mude sem a participação e empenho de quem está de fora, é como esperar por Godot ou esperar sentado. Como Manuel Alegre, defendo a discussão política em torno das questões centrais em torno do Homem. Quero acreditar que tal se pode fazer mais eficazmente dentro da política do que fora dela.
  8. Este ano faleceu o meu pai. Na comunidade onde ele viveu, foi sempre um Homem dedicado à causa pública, por décadas. Penso que dele é guardada uma memória de cidadão impoluto e de povo. A minha participação é também a minha homenagem.
António Abrantes

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