quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O regresso aos rios do concelho de Seia


É um lugar-comum apresentar a defesa do ambiente como uma bandeira política. Fica bem.

Os rios e ribeiros criaram ambientes propícios à fixação de populações. Muitos de nós ainda se lembra do chamamento que os nossos rios exerciam sobre as pessoas. Lembro-me dos banhos em águas limpas, dos piqueniques, das pescarias. Os rios aproximavam as pessoas. Era o que restava para quem não existiam os algarves. Lembro-me dos moleiros e dos moinhos da minha terra e do pão bom que a minha mãe cozia. O rio que alimenta uma enorme levada de regadio, o rio que permitiu o crescimento de indústrias de forte emprego. Como eu, nostalgicamente, recordo o rio da minha vida, outros recordarão os seus.

A natureza brindou-nos aqui na Serra com uma dádiva, com uma rede de cursos de água que quase servem, actualmente, apenas para nos levarem a porcaria de casa para fora, para momentos depois suscitarem a raiva do outro cidadão que vê a jusante toneladas de esterco, boiando onde antes se viam trutas a saltar ou bogas a rebolar ou tapando o nariz para impedir a iinvasão de nauseabundos cheiros, mesmo que digam que há uma etar.

Um projecto muito sinalizado tem sido as Aldeias do Xisto. Por que não um projecto das Terras de Rio?

Ainda que de modo ligeiro, veja-se como se pode guindar a um projecto economicamente viável e estruturante.

Vários termos tem esta equação:

  • A necessidade indiscutível e inadiável de limpar os rios e ribeiros nas suas margens, no seu leito, nas suas águas, na sua alma;
  • Sem rios vivos, não há ambiente equilibrado;
  • Há muito desemprego nesta região. Há muito subsídio sem qualquer retorno;
  • Os trabalhos exigem trabalho técnico e científico a par de trabalho indiferenciado, exigente ano após ano. Este trabalho nunca estará acabado.
  • Os rios favorecem actividade económica, para além das mais valias geradas ao nível do bem-estar;
  • Há fundos destinados a projectos desta natureza.
  • Os rios e as pessoas têm uma ligação umbilical e estes projectos são mobilizadores.

A equação, bem formulada e bem resolvida, desencadeia mais-valias assinaláveis em termos ambientais, de empregabilidade, de turismo, de economia e de saúde.

Há que gizar projectos abrangentes. O ambiente tem destas coisas. Obriga as pessoas e as instituições a cooperarem. Como pode Sandomil estar bem com o seu rio se Vila Cova estiver mal? Oliveira do Hospital não desejará que Seia seja o melhor concelho em termos ambientais? Seia tem a obrigação histórica de cuidar dos seus rios por mais discretos que eles sejam.

Seia tem algumas condições estratégicas para o desenvolvimento da economia ambiental. Tem também muita descoordenação. Vemos uma fachada fantástica como o CISE que poderia ser valorizado com novas valências de coordenação, temos organizações como a URZE, há o Parque Natural da Serra da Estrela, há evidentes preocupações ambientais em múltiplos blogues. Há o primeiro elemento do Projecto – o PROBLEMA.

O Ambiente deve ser elevado à categoria de PILAR de gestão autárquica, mobilizador da participação cívica e popular e enquadrado técnica e cientificamente por quem sabe. Eu não sei, mas acho que existe quem sabe. Sabemos que existe quem sabe. É só uma questão de se querer ouvir e perguntar.